Parecia
que o mundo ia acabar. Quirino eleito pela segunda vez deputado estadual! A Cajazeiras tradicional não aguentava. Bastava Chico, do lado
pobre da família Rolim, ter sido eleito três vezes prefeito. E agora aparecia esse Quirino, nem Rolim era...
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Teriam que aguentar, a
mudança acon- tecia, e o povo nunca teve dono.
O que a velharia não aceitava era o fato de o novo deputado ser de
família pobre, advogado, só formado pela facilidade que os novos
tempos permitiam, se111 uma única ligação com
a tradição da cidade.
Quando prefeito da cidade, Quirino foi operante; de onde era beco
abriu
ruas,, de onde era riacho fez açude e, onde era buraco, tapou
tudo. Foi acima da média. O suficiente para
ter fanáticos. Chico Branco era o maior deles: sobrinho de Chico Rolim, esquecia o amor pelo tio do pela adoração a Quirino.
Tudo que acontecia na cidade, Chico Branco noticiava a Quirino. E,
por mais
fiel que fosse, sentia em Dona Maria Félix, a mãe do
deputado, certa resistência à sua
influência e assiduidade junto ao filho dela. Mesmo assim o
procurava, mantinha
a amizade. Era amigo mesmo, sem interesses.
Fazendeiro, nunca precisou de ninguém para manter sua família, cobrir seus gastos e educar seus filhos.
Tinha até conseguido formar um filho médico.
O que ele nunca imaginaria é que, um dia, o político em que sempre
votara, fizesse uma daquelas. Aconteceu que Batista Barreto, enfurecido, após
ouvir uma resposta de Quirino a um discurso em que seu irmão, Bosco, dissera o
diabo acerca da pobreza do prefeito, da falta de tradição de sua família,
tentou tirar a forra com ele. Assim que soube de tudo, informado pelo filho
Vicente, Chico Branco foi dar a informação
ao deputado e líder inconteste.
Chegou e perguntou à mãe do deputado se ele estava em casa. A
rechonchuda senhora, temendo mais um incômodo para o filho, fez ver ao grande
eleitor a ausência dele.
Chico Branco ficou triste por não conseguir dar a informação, mas
sabia que, muito cedo, faria isso. Era só questão de tempo. Antes do que
pensassem, faria o deputado ciente.
Voltou,
sem imagina que teria uma decepção. Maior ainda, decepção grande é de quem a
gente gosta, e essa foi a que mais doeu.
Saiu
de casa, olhou pra o alto, para o andar
de cima, viu a cabeça do amigo.
Voltou.
E, com a maior espontaneidade, disse.
-
Dona Maria, diga ao deputado que, quando sair, leve a careca.
Do livro "O Cronista do Boato - Causos de Valiomar Rolim"
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