Chico Rolim, deputado federal, ex-prefeito de Cajazeiras-PB por três vezes, fazendo serão em seu gabinete, já às oito e meia da noite, nem notou que o funcionário terceirizado da limpeza estava na área, exercendo sua função.
Trabalhava freneticamente no projeto de lei que iria propor: o da permissão de portar armas aos caminhoneiros em viagem. Sentia, desde a infância no interior do Ceará e da Paraíba, a insegurança de quem viajava na solidão das brenhas desse mundo de meu Deus. Era um fato real e repetido, desde a época dos tropeiros, que atravessavam os sertões em comboios de burros, transportando as riquezas, que este país produzia desde a época do império.
Por mais que Rolim trabalhasse, por mais que ignorasse a presença do rapaz da limpeza, mais ele fazia barulho para ser notado. Não tinha jeito, o deputado estava absorto no seu projeto. Não havia barulho que chamasse a atenção dele.
O bedel ficou impressionado com a concentração do congressista. Ate parecia que não estava na câmara. Ficou ali, parado, estático, presenciando o trabalho incessante do parlamentar.
E ficaram os dois. Um trabalhando, outro observando.
Passava das dez horas da noite. A câmara estava vazia, não havia viva alma, quando Rolim encerrou sua jornada.
O faxineiro, depois de tanta espera, de tanto estranhar um deputado trabalhar até aquelas horas. Não conseguiu se conter e fez-se notar.
Começou per-guntando de qual es-tado era o depu-tado. Depois, pergun-tou qual time ele torcia. Diante da resposta de que ele não tinha time de preferência, não se conteve.
Começou dizendo que só podia ser um político, que não queria desagradar ninguém, mas estava claro: ele era flamenguista. E declarou: “como não seria torcedor do Flamengo uma pessoa que tem, em sua escrivaninha, uma bandeira vermelha e preta e, ainda em cima, nela escrito NÊGO”.
Era a bandeira da Paraíba que Rolim mantinha em seu birô.
E ficaram os dois. Um trabalhando, outro observando.
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